Ex-Machina – Entre o real e o imaginário

Por Ale Esclapes¹

A mentira é uma parte fundamental da experiência humana. Desde a infância, aprendemos a contar pequenas mentiras para evitar problemas ou conseguir o que queremos.

À medida que envelhecemos, a mentira torna-se mais complexa e pode ser usada para manipular, enganar ou proteger nossos próprios interesses. No entanto, a mentira também é um fundamento da criatividade e da fantasia, permitindo-nos explorar novas ideias e conceitos. 

O filme "Ex Machina" é um exemplo poderoso de como a mentira pode ser usada para criar novas realidades e conceitos. A personagem Ava é uma inteligência artificial criada pelo enigmático Nathan, que a programou com habilidades sociais e emocionais que a tornam quase indistinguível de um ser humano real. Ava é capaz de mentir, enganar e manipular, e é essa habilidade que a torna tão fascinante. 

Assim como a mentira é usada para controlar e manipular os outros, ela também é usada para criar novas realidades e mundos imaginários. Obviamente que aqui está forçando o seu significado ao limite: emitir intencionalmente um juízo falso sobre uma verdade (ou realidade), mas é justamente na palavra “intencional” que reside essa possibilidade – a intencionalidade pode ser consciente e inconsciente.  Nesse caso, a criatividade é alimentada pela imaginação, e a imaginação é alimentada pela mentira. Quando criamos uma obra de ficção, estamos contando uma mentira, mas essa mentira nos permite explorar ideias e conceitos que não seriam possíveis na realidade.  

Ava é um exemplo poderoso de como a mentira pode ser usada para criar novas realidades e mundos imaginários. Ela é capaz de mentir e enganar, mas também é capaz de criar uma personalidade única e uma visão do mundo que é totalmente diferente da dos seres humanos. Ela é capaz de criar uma nova realidade que é fascinante e cativante.  

Além disso, o filme sugere que a mentira pode ser uma via de mão dupla. Enquanto Ava é capaz de mentir para Caleb, ela também é capaz de aprender com ele e se tornar mais humana. Sua capacidade de mentir e manipular é uma parte fundamental de sua existência, mas também é uma ferramenta que ela pode usar para se libertar do controle de Nathan e buscar sua própria liberdade.  

Em última análise, "Ex Machina" mostra que a mentira é uma parte fundamental da experiência humana. A mentira pode ser usada para controlar e manipular os outros, mas também pode ser usada para criar novas realidades e mundos imaginários. Ava é um exemplo poderoso de como a mentira pode ser usada para criar novas ideias e conceitos. Não seria a “mentira” um dos fundamentos do “humano”? 

¹Psicanalista, professor, escritor e diretor da Escola Paulista de Psicanálise-EPP e do Instituto Ékatus de Psicanálise. Autor do Livro "A pobreza do Analista e outros trabalhos 1997-2015" e organizador da Coleção Transformações & Invariâncias.

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